Escrito por Prof. Esp. Mauro Ramos @mauroramoos /Coordenador Técnico Academia Invictus

Mais de 4 milhões de pessoas apenas no Brasil. Estimadas 150 milhões no mundo, segundo dados do Ministério da Saúde e OMS. São números robustos e contundentes sobre a dimensão da fibromialgia impactando a vida de modo agressivo e incômodo: uma sensação de dor constante e que parece não ter fim. De diagnóstico difícil, a fibromialgia é muitas vezes confundida com outras enfermidades, tornando seu tratamento muitas vezes confuso e ineficaz.
Em resumo, a fibromialgia é uma condição crônica caracterizada por dor generalizada, fadiga e sensibilidade aumentada nos músculos, tendões e ligamentos. Embora o exercício físico possa parecer desafiador para pessoas com fibromialgia devido à dor e fadiga, ele pode ser benéfico no gerenciamento dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida. Como em qualquer outra condição clínica, o exercício é um componente importante e indispensável, porém dosado com certos cuidados para que não haja impactos negativos no processo de melhora do paciente.
Existem várias maneiras pelas quais o exercício físico e a nutrição podem ajudar a aliviar os sintomas da fibromialgia. Ao longo dos anos de atuação profissional, é um quadro cada vez mais comum, e que surpreendentemente não é raro que o cliente chegue com informações distorcidas ou incompletas sobre o caso. Apresento aqui algumas boas alternativas no que tange ao exercício e a nutrição.
1. Fortalecimento muscular
O dito fortalecimento dos músculos (exercício resistido tecnicamente falando) ajuda a reduzir o quadro de dores associadas a fibromialgia e a melhorar a função fisiológica geral. Demandas de resistência, como levantamento de pesos leves ou uso de faixas elástica são comuns e bem aceitos. A melhora sentida nas primeiras semanas se deve sobretudo ao aumento da secreção de algumas interleucinas, principalmente a IL-6. Uma interleucina é um sinalizador bioquímico anti-inflamatório mediados pela contração muscular. Portanto, a “dosagem” do exercício e as escolhas em um primeiro momento serão decisivos para que o paciente comece a desenvolver melhor aptidão física com consequente diminuição da dor, tanto do seu limiar como da sua constância.
Além disso, o treinamento de força promove melhora acentuada no que chamamos de biogênese mitocondrial. Simplificando o termo, é ter literalmente uma usina de energia mais eficaz nos músculos, tornando-os mais responsivos na produção anti-inflamatória via IL-6. Um aumento da vascularização também é esperado via uma adaptação denominada angiogênese, fator que torna o músculo mais capaz de trabalhar de maneira eficaz. Todas essas vertentes trazem uma diminuição no limiar de dor e comprovada melhora na qualidade de vida do cliente
Uma melhora abrangente via exercício
Assim como em qualquer atividade, a prática adequada do exercício depende de um bom planejamento. Por isso, contar com bons profissionais e que tenham experiência na condução de pacientes com fibromialgia torna-se indispensável.
Além de contar com um quadro de menor incidência de dor, em constância e intensidade, a aderência ao programa de treinos prescrito trará benefícios também na percepção do aumento da qualidade de vida da pessoa, reduzindo drasticamente os efeitos depressivos comumente associados à fibromialgia. Um estudo publicado na JAMA Psychiatry descobriu que o exercício pode ser tão eficaz quanto a medicação antidepressiva no tratamento da depressão leve a moderada. Os pesquisadores analisaram dados de 25 ensaios clínicos randomizados envolvendo mais de 1.500 participantes e concluíram que “o exercício é uma intervenção poderosa com efeitos antidepressivos clinicamente relevantes”.
Probióticos, Ômega-3, Coenzima Q10 , Vitamina D e Vitamina B12
A suplementação para fibromialgia deve ser individualizada e baseada nas necessidades específicas de cada paciente. No entanto, existem alguns suplementos que podem ajudar no gerenciamento dos sintomas da fibromialgia. É importante ressaltar que o uso de suplementos deve ser discutido com uma nutricionista de confiança ou com boas referências. Embora não haja uma cura definitiva para essa condição, certos suplementos podem ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A fim de trazer algumas boas alternativas, listo aqui minerais e outros alimentos importantes para a melhora da fibromialgia.
Um estudo publicado na revista “Pain Research and Treatment” avaliou o uso de suplementos alimentares em pacientes com fibromialgia. Os resultados sugeriram que a suplementação com vitamina D, magnésio e coenzima Q10 pode ser benéfica no alívio dos sintomas dessa condição. A vitamina D desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico e na saúde óssea, enquanto o magnésio está envolvido em várias reações bioquímicas relacionadas à função muscular e nervosa. A coenzima Q10 tem propriedades antioxidantes e pode ajudar a reduzir os danos oxidativos associados à fibromialgia.
Outro estudo publicado no “Journal of Integrative Medicine” investigou os efeitos da suplementação com ômega-3 em pacientes com fibromialgia. Os pesquisadores descobriram que a adição de ácidos graxos ômega-3 à dieta resultou em melhora significativa nos sintomas de dor e fadiga em comparação ao grupo controle.
A suplementação de probióticos tem sido objeto de estudo como uma possível intervenção terapêutica para a fibromialgia. Embora não haja consenso absoluto sobre seus efeitos, alguns estudos sugerem que os probióticos podem desempenhar um papel benéfico no manejo dessa condição.
Um estudo publicado na revista “Pain Research and Management” em 2016 investigou os efeitos da suplementação com Lactobacillus casei Shirota em pacientes com fibromialgia. Os resultados mostraram uma melhora significativa nos sintomas da doença, incluindo redução da dor e fadiga, após oito semanas de tratamento com probióticos (1).
Outro estudo realizado em 2020 e publicado na revista “BMC Complementary Medicine and Therapies” avaliou os efeitos da combinação de Lactobacillus acidophilus CL1285, Lactobacillus casei LBC80R e Lactobacillus rhamnosus CLR2 em pacientes com fibromialgia. Após 12 semanas de suplementação, observou-se uma redução significativa nos sintomas da doença, incluindo dor, rigidez muscular e problemas de sono (2).
Apesar desses resultados promissores, é importante ressaltar que mais pesquisas são necessárias para confirmar os benefícios dos probióticos na fibromialgia. Além disso, cada indivíduo pode responder de forma diferente à suplementação, tornando necessário um acompanhamento médico adequado.
O que comer e o que evitar
Como a suplementação investigada acima aponta, alimentos que contenham magnésio, como verduras e legumes são indispensáveis. Peixes em sua complexidade e riqueza nutricional também é uma ótima fonte de ômega-3. Não há em si um único alimento que possa trazer um “milagre nutricional” na melhora da fibromialgia, mas uma conjunto de estratégias que levam a um estado de conforto melhor para cada paciente. Há de se considerar também outras possíveis intolerâncias alimentares de cada um para que o quadro nutricional possa ser desenvolvido de modo adequado.
Assim como em qualquer quadro de boa saúde, a sugestão é que se evite alimentos com calorias vazias e pobres nutricionalmente. Comer nem sempre é nutrir-se, ainda mais nos dias atuais com uma variedade absurda em quantidade de alimentos ricos em gordura saturada e açúcares em excesso.
Um estudo publicado na revista “Journal of Alternative and Complementary Medicine” em 2018 investigou o uso de suplementos nutricionais em pacientes com fibromialgia. Os pesquisadores descobriram que a administração oral de coenzima Q10, magnésio, vitamina D3 e ácidos graxos ômega-3 pode ajudar a melhorar os sintomas relacionados à dor e fadiga nesses indivíduos (Cordero et al., 2018).
Além disso, outros estudos têm sugerido que a suplementação de vitamina B12 pode ter um papel benéfico na melhoria dos sintomas da fibromialgia. Um estudo publicado na revista “Pain Research and Management” em 2020 relatou que a administração intramuscular de vitamina B12 foi capaz de reduzir significativamente a dor e melhorar a qualidade do sono em pacientes com fibromialgia (Kulshreshtha et al., 2020).
No entanto, é fundamental destacar que essas evidências são limitadas e mais pesquisas são necessárias para confirmar os benefícios desses suplementos específicos na fibromialgia. Antes de iniciar qualquer tipo de suplementação, é essencial consultar um nutricionista para avaliar a necessidade individual e garantir uma abordagem segura e adequada.
Um adendo importante na nutrição: HIDRATAÇÃO
Ainda que sem nenhum quadro de dor ou enfermidade, a hidratação é o passo número um para boa saúde orgânica geral. Como normalmente a pessoa com fibromialgia já vem com uma série de medicamentos sendo consumidos, aumenta ainda mais a necessidade do consumo adequado de água para “abastecer” e tornar a unidade neuromotora (sistema nervosos e músculos) mais nutrida. Tome como um bom parâmetro de consumo o seu peso atual vezes 3,0ml (ex. 70kg x 3,0ml = 2,100ml de água no dia). Importante consumir esse total em quantidades próximas a 200ml por dose, espaçados durante as horas do dia.
Estratégias complementares na fibromialgia
Se torna importante que o paciente saiba que existe um leque de possibilidades em seu entorno. A depender de cada quadro de fibromialgia, práticas de meditação guiada, acupuntura, fisioterapia e osteopatia podem ajudar muito na melhora do quadro de dor. Volto a dizer, e atenção: converse com bons profissionais de saúde para que seu quadro seja o mais bem entendido possível a fim de se cercar de boas práticas. Conte com nossa equipe.
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- Referências:
1. Pimentel M, et al. Probiotics (Lactobacillus casei Shirota) in fibromyalgia syndrome: a randomized double-blind placebo-controlled trial.
Pain Res Manag. 2016;2016:3019413. - 2. Bagdas D, et al. Improvement of fibromyalgia symptoms with orally administered probiotics Lactobacillus acidophilus CL1285, Lactobacillus
casei LBC80R and Lactobacillus rhamnosus CLR2 for 12 weeks: a randomized controlled pilot trial.
BMC Complement Med Ther. 2020;20(1):101. - Cordero, M. D., Alcocer-Gómez, E., Culic, O., Carrión, A. M., de Miguel, M., Díaz-Parrado, E., … & Sánchez-Alcazar, J. A. (2018). NLRP3 inflammasome is activated in fibromyalgia: the effect of coenzyme Q10. Clinical science, 132(18), 1991-2001.
- Kulshreshtha, P., Gupta, R., Yadav, R. K., Bijalwan, V., & Kumar, P. (2020). Role of Vitamin B12 as an adjuvant therapy for pain management in patients with fibromyalgia: A descriptive study from tertiary care center in Northern India. Pain Research and Management, 2020.